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A «Administração Trump, a situação nos EUA e suas repercussões na situação internacional» foi o tema do debate promovido pelo CPPC no dia 20, na Casa do Alentejo, perante uma numerosa audiência. Na mesa, estiveram Ilda Figueiredo, presidente da Direcção Nacional do CPPC, o jornalista José Goulão e o major-general na reserva Pedro Pezarat Correia.

Na intervenção inicial, Ilda Figueiredo adiantou que, com este debate, o CPPC procurava contribuir para o aprofundamento da análise da situação internacional decorrente da eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA, não esquecendo o contexto em que esta decorreu, quer nos próprios EUA quer no resto do mundo. Esta situação, lembrou, era e é marcada pela persistência e agravamento da profunda crise económica e social, por uma grande incerteza e instabilidade e pela proliferação de conflitos, sobretudo no Médio Oriente e em África.

Relativamente aos EUA, foi referido que a agudização da crise naquele país, o agravamento das desigualdades e da pobreza e os avultados recursos canalizados para a guerra, provocaram descontentamentos que desembocaram na eleição de Trump, sendo chamada a atenção para semelhanças com a situação na Europa, recordando os muros erguidos contra os refugiados, as políticas anti-sociais e as limitações à democracia, em muitos países da União Europeia. Ao nível do militarismo, recordou-se o envio para a Europa (designadamente para a Polónia e outros países que fazem fronteira com a Federação Russa), nas últimas semanas da administração Obama, de milhares de tropas e material bélico pesado de última geração, o que era já um objectivo nas decisões da cimeira da NATO realizada em Varsóvia no Verão passado.

O caso da Palestina foi recordado, seja pelos anúncios recentes da administração Trump seja pelas posições anteriores, lamentando-se que Obama só no final do mandato tenha aceite a condenação da política dos colonatos israelitas, enquanto foi durante anos o grande financiador da militarização de Israel. A «guerra mediática» foi também denunciada no decorrer do debate.

Particularmente interessante foi o testemunho de um militar português que denunciou a crescente mercantilização da guerra, dando como exemplo a sua experiência no Mali, integrado numa operação da ONU, onde trabalhavam lado a lado com "contratados privados" pagos pelas multinacionais que ali exploravam as riquezas daquele país. No debate vincou-se ainda que a incerteza que actualmente se vive não pode ser aproveitada para maior corrida aos armamentos, nomeadamente na União Europeia, nem para desta como pilar europeu da NATO.

No final, Ilda Figueiredo relembrou vários aspetos do artigo 7.º da Constituição da República Portuguesa, nomeadamente a defesa do desarmamento geral e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o conceito de paz, que o CPPC também defende, e que não se relaciona apenas com segurança. Para construir a paz é necessário liberdade, democracia, desenvolvimento e progresso social, o reconhecimento do direito soberano de cada povo escolher o seu caminho.